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A idéia deste blog é dar a conhecer a cultura gaúcha em todas suas formas.
Um forte quebra-costela para todos e espero que tudo o que vejam aqui seja de seu agrado.


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Gaúcho - Antônio Augusto Fagundes

Os moços de Porto Alegre
escritores, jornalistas,
aqueles que sabem tudo,
ou pensam que sabem tudo...
disseram que já morreste.
Ou então que estás de a pé,
sem cavalo, sem bombacha,
sem bota, espora ou chapéu,
sem comida e sem estudo.

Moços da voz de veludo
e máquinas de escrever
produzidas no estrangeiro
dizem que tu, companheiro,
morreste ou estás mui mal
porque o êxodo rural
te atirou pelas sarjetas
sujo de pó e de barro
catando a toa cigarro
nos becos da capital.

E no entanto, estás vivo!
Estás vivo e trabalhando
e produzindo o que comem
esses moços do jornal.

Quem é gaúcho, afinal?

Tenho pra mim que são três:
um é o peão, o assalariado,
o operário campeiro.
Outro é o patrão, o estancieiro,
o empresário rural.
O terceiro é o camponês
que se agüenta bem ou mal
sem ter nem peão nem patrão.
No mais, é um homem solito,
um carreteiro, talvez.

São os homens de a cavalo
que agarram o céu com a mão,
rasgando fronteira e chão,
marcando terneiro a pealo,
bebendo o canto do galo
no alvorecer do rincão.

São três homens diferentes?
No entanto, os três são um só:
mesma fala, mesma roupa,
mesmo arreio, mesma lida.
Em resumo: a mesma vida,
mesmo barro e mesmo pó.

Um mais rico, outro mais pobre.
Prata, ouro, lata ou cobre
que importam, se homem é nobre
e amarra no mesmo nó?

As bombachas que eles usam
tem um século. Cem anos!
Os arreios do cavalo
são muito mais veteranos:
duzentos anos talvez.
E o chimarrão, o palheiro,
o churrasco, o carreteiro,
o truco, a tava, as carreiras,
a gaita, e o chote inglês,
São dos séculos passados,
já tinham em 93.

As coisas velhas, perdidas
como a chula, as boleadeiras
e as rocilhonas campeiras
tudo está vivo outra vez.


E a mesma mulher gaúcha
inspira cada vez mais.

E a paisagem é sempre a mesma.
Eterna, mas sempre nova.
Do litoral à fronteira,
da serra aos campos neutrais.
Das missões até o planalto
para frente, para o alto
como regiões naturais,
do verde das sesmarias
até o ouro dos trigais
as duas cores da pátria
que o Rio Grande esparramou
nas plagas meridionais.

Porque o Rio Grande é eterno
como é eterno seu luxo:
tu não morreste, gaúcho,
deixa que falem, no mais.
Deixa que o fraco de sempre
(o fracassado, o vencido)
tente te encerrar no olvido
que o futuro lhe promete.
E que te chamem de Odete
os desfibrados morais:
no lombo do teu cavalo
estás tão alto, tão alto,
que a lama preta do asfalto
não te alcançará jamais!

Meu pai veio da campanha
com a mulher e dez filhos
e veio para abrir trilhos,
foi sempre um homem de bem.
Jamais andou mendigando,
catando lixo nos valos
ou toco pelas sarjetas.
Não se esqueceu das carretas
nem do tranco dos cavalos.

Nasceu e morreu gaúcho.
Trabalhou e foi alguém.

E eu herdei seu evangelho.
Me orgulho daquele velho
eu sou gaúcho também!

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